domingo, 18 de dezembro de 2011
Transparente
Era tão estranho que, apesar do frio cortante que já durava dias, o lago ainda não estivesse congelado. As crianças que brincavam ali perto colocavam suas pequenas mãozinhas em suas águas e se espantavam: ele ainda estava quente e cristalino, como no verão. Dias de temperaturas negativas se passaram, e ele continuava aquecido. Porém, um dia, quando o caminhão veio buscar a mudança da família que lhe era vizinha, suas águas começaram a cristalizar. “Impossível”, pensavam, “deve ser algum tipo de magia”. E o lago já possuía mais de um metro de gelo em sua superfície, lisa como um vidro. No dia seguinte, outra família chegou e uma menina vinha todos os dias patinar sobre ele, apesar dos avisos de que era “encantado”. À noite, curiosa, sentou-se na borda do lago e, sentindo a luz da lua cheia iluminar sua face, perguntou-lhe: “por que congelou tão rápido?”. Após alguns segundos, o lago lhe respondeu: “Apenas gosto de companhia. Eu sabia que o menino que morava aqui antes gostava de nadar, então eu me aqueci. Sabendo que você gosta de patinar, eu me rendi ao frio e congelei.”
domingo, 3 de abril de 2011
Inspiração
"Ser escritor é conhecer a dor e a delícia de possuir o eterno compromisso com uma folha em branco". Não me recordo quem disse essa frase, mas é verdadeira. Ser escritor é exatamente isso, conhecer tanto a dor — quando a inspiração se esconde lá no fundo de você —, quanto a delícia, aquela sensação boa de ver a folha, antes em branco, repleta de palavras.
Há uma coisa que me incomoda profundamente dessa tal de inspiração. Personificada, imagino que seria como uma criança bem mimada, querendo as coisas nas horas mais inoportunas. Só me brinda com sua presença quando não posso lhe atender, puxar um papel e, com a caneta na mão, deixar a mente vagar. Por que raios nunca tem um papel perto de mim nessas horas? E minha criança chora, grita, pede por atenção, até que se cansa e adormece, lá no fundo. E quem disse que acorda quando eu chamo?
Chego em casa, sento-me e, frustrada, encaro a folha em branco. Decido (tentar) dormir. Horas sem pensar em nada coerente. Enfim, quando o sono bate, Inspiração acorda. Começo a imaginar:
É um pátio muito bonito, cercado por colunas. O piso e as paredes são brancos e há alguns bancos escuros espalhados. Minha personagem favorita está sentada em um deles, com vários livros no colo e rodeada de amigas. Sente-se bem ali, sorri abertamente. Que lugar é aquele? Inspiração responde que é uma escola, e dá nome a todas as pessoas que rodeiam minha personagem.
Eis que o sorriso dela some, para depois se abrir de novo, tímido. Seu olhar acompanha um novato que anda sozinho pelo pátio, o cabelo raspado, a mochilas nas costas. Corresponde o sorriso dela do mesmo jeito. Aproxima-se, hesitante. As amigas já perceberam e se perguntam quem é ele, que chega cada vez mais perto. Meu Deus, eu preciso levantar e escrever isso.
Vou até o escritório vendo-os em minha mente. Ele se senta ao lado dela e a abraça. Puxa seu rosto com delicadeza e... Inspiração, acorde já, sua birrenta, eu acabei de me sentar!
Há uma coisa que me incomoda profundamente dessa tal de inspiração. Personificada, imagino que seria como uma criança bem mimada, querendo as coisas nas horas mais inoportunas. Só me brinda com sua presença quando não posso lhe atender, puxar um papel e, com a caneta na mão, deixar a mente vagar. Por que raios nunca tem um papel perto de mim nessas horas? E minha criança chora, grita, pede por atenção, até que se cansa e adormece, lá no fundo. E quem disse que acorda quando eu chamo?
Chego em casa, sento-me e, frustrada, encaro a folha em branco. Decido (tentar) dormir. Horas sem pensar em nada coerente. Enfim, quando o sono bate, Inspiração acorda. Começo a imaginar:
É um pátio muito bonito, cercado por colunas. O piso e as paredes são brancos e há alguns bancos escuros espalhados. Minha personagem favorita está sentada em um deles, com vários livros no colo e rodeada de amigas. Sente-se bem ali, sorri abertamente. Que lugar é aquele? Inspiração responde que é uma escola, e dá nome a todas as pessoas que rodeiam minha personagem.
Eis que o sorriso dela some, para depois se abrir de novo, tímido. Seu olhar acompanha um novato que anda sozinho pelo pátio, o cabelo raspado, a mochilas nas costas. Corresponde o sorriso dela do mesmo jeito. Aproxima-se, hesitante. As amigas já perceberam e se perguntam quem é ele, que chega cada vez mais perto. Meu Deus, eu preciso levantar e escrever isso.
Vou até o escritório vendo-os em minha mente. Ele se senta ao lado dela e a abraça. Puxa seu rosto com delicadeza e... Inspiração, acorde já, sua birrenta, eu acabei de me sentar!
quinta-feira, 10 de março de 2011
A USP
Não sou muito boa com relatos, mas... Esse aqui sai do coração, não da mente.
Foi um dia engraçado, quando saiu a lista de aprovados. Acho que até hoje, que já ando livremente pelos corredores e converso debaixo das arcadas do páteo, ainda não caiu totalmente minha ficha. Mas acordar com minha mãe gritando "Thaís, você passou, Thaís! Você está na USP!", e logo após ouvir os telefones tocando como loucos, foi uma das melhores sensações do mundo.
No dia da matrícula, deixaram-me assim:
Tinha "luzes" amarelas no cabelo, tinta para todos os lados, imaginem só kkk
Na semana seguinte, começou a "semana de recepção aos calouros" (XIII SEREC). Palestras, apresentação da casa, dos cursos, das carreiras... Todos os veteranos são simpáticos, tratam você muito bem. Sinto até um certo receio de brincar, de puxar intimidade demais sem conhecer direito as pessoas, de tão bem que me sinto ali. No último dia, tivemos um júri simulado. É lindo demais, não? Um caso histórico, do século XIX, se desenvolvendo em todos os seus detalhes ali, bem na sua frente. Demais.
Confesso, fiquei um tanto chateada quando dividiram a turma. Todos os colegas calouros que tinha conhecido ficaram em outras salas. Hoje, já conheço boa parte da minha sala e não tenho intenções de sair de lá (pois é, vão ter que me aguentar! kkk) O pessoal tem a boa e velha tradição sanfranciscana de ser simpático e de se unir, de cuidar uns dos outros.
Começaram as aulas, enfim. Primeira aula da minha vida: Teoria Geral do Direito Penal. É para se apaixonar mesmo, não?
Depois, a grade foi se desenrolando: Direito Romano,Introdução Ao Estudo do Direito, Teoria Geral do Direito Privado (Civil), Economia Política, Teoria Geral do Estado, Direito Constitucional. Gostei bastante de Romano, EP e TGE. A Aula de DC ainda não assisti, por motivos técnicos =X
Outras curiosidades: as festas da faculdade são ótimas, e muitas; xerox é realmente caro; Restaurante Universitário não mata; é impossível sair sozinha da faculdade quando as aulas terminam, vi a ação dos trombadinhas com meus próprios olhos; a Cidade Universitária é legal, mas é longe pra caramba; a FEA parece um shopping e os 'habitantes' de lá não vão com a nossa cara; a BAISF (Bateria Agravo de Instrumento da São Francisco) tem o pessoal mais legal e animado daquela faculdade; por último, sinto-me exatamente onde queria estar. E talvez seja esse o meu destino. Amém.
Foi um dia engraçado, quando saiu a lista de aprovados. Acho que até hoje, que já ando livremente pelos corredores e converso debaixo das arcadas do páteo, ainda não caiu totalmente minha ficha. Mas acordar com minha mãe gritando "Thaís, você passou, Thaís! Você está na USP!", e logo após ouvir os telefones tocando como loucos, foi uma das melhores sensações do mundo.
No dia da matrícula, deixaram-me assim:
Tinha "luzes" amarelas no cabelo, tinta para todos os lados, imaginem só kkk
Na semana seguinte, começou a "semana de recepção aos calouros" (XIII SEREC). Palestras, apresentação da casa, dos cursos, das carreiras... Todos os veteranos são simpáticos, tratam você muito bem. Sinto até um certo receio de brincar, de puxar intimidade demais sem conhecer direito as pessoas, de tão bem que me sinto ali. No último dia, tivemos um júri simulado. É lindo demais, não? Um caso histórico, do século XIX, se desenvolvendo em todos os seus detalhes ali, bem na sua frente. Demais.
Confesso, fiquei um tanto chateada quando dividiram a turma. Todos os colegas calouros que tinha conhecido ficaram em outras salas. Hoje, já conheço boa parte da minha sala e não tenho intenções de sair de lá (pois é, vão ter que me aguentar! kkk) O pessoal tem a boa e velha tradição sanfranciscana de ser simpático e de se unir, de cuidar uns dos outros.
Começaram as aulas, enfim. Primeira aula da minha vida: Teoria Geral do Direito Penal. É para se apaixonar mesmo, não?
Depois, a grade foi se desenrolando: Direito Romano,Introdução Ao Estudo do Direito, Teoria Geral do Direito Privado (Civil), Economia Política, Teoria Geral do Estado, Direito Constitucional. Gostei bastante de Romano, EP e TGE. A Aula de DC ainda não assisti, por motivos técnicos =X
Outras curiosidades: as festas da faculdade são ótimas, e muitas; xerox é realmente caro; Restaurante Universitário não mata; é impossível sair sozinha da faculdade quando as aulas terminam, vi a ação dos trombadinhas com meus próprios olhos; a Cidade Universitária é legal, mas é longe pra caramba; a FEA parece um shopping e os 'habitantes' de lá não vão com a nossa cara; a BAISF (Bateria Agravo de Instrumento da São Francisco) tem o pessoal mais legal e animado daquela faculdade; por último, sinto-me exatamente onde queria estar. E talvez seja esse o meu destino. Amém.