domingo, 21 de março de 2010

"Morfeu"logia

Cada pessoa tem uma rotina diferente e uma determinada quantidade de horas de sono que precisa por noite, para se sentir disposto. Napoleão Bonaparte se satisfazia com apenas quatro horas, já Einstein não era ninguém no dia seguinte se não dormisse dez horas sem parar. Mas em uma coisa todo mundo chega um acordo: gente que não dorme fica chata, insuportável mesmo.

Conheci certa vez um garoto que estava sempre carrancudo, mal humorado e era o mais lento para entender as explicações. Tinha alguns amigos, mas eram poucos.

Um dia, em um sábado à tarde, creio eu, encontrei-o em um café, estudando. Na hora, não consegui entender bem o porquê, mas ele parecia... Calmo. Chegou a sorrir quando me viu e eu nunca o tinha visto fazer isso.

— Nossa, você me parece tão bem, tão alegre... O que aconteceu, hein? Viu o passarinho verde? — Perguntei. Ele riu.

— Não, não, eu apenas me sinto melhor que o normal. Ontem, eu dormi na casa de uma tia e parece que hoje tudo rende... Falando em render, vamos estudar? Tenho algumas dúvidas.

Começamos a estudar e ele em nada se parecia com aquele garoto lerdinho da sala de aula. O tempo voou.

— Infelizmente, eu tenho que ir. Mas, conta, o que você tomou na casa da sua tia para ficar assim?

— Nada, só dormi mais cedo. Minha casa é muito barulhenta à noite: meu pai é músico; minha mãe, escritora, ambos adeptos à “força criativa da lua”. — Disse, num leve deboche. — Acabo conseguindo cochilar quando já está quase amanhecendo.

Saí de lá preocupada com ele, havíamos descoberto o problema, só faltava a solução.

Na semana de recesso que seguiu o episódio no café, acabei me esquecendo do ocorrido. Na segunda-feira, quando o vi no colégio novamente, sorrindo, rodeado de gente, surpreendi-me, sabia que algo tinha mudado e para melhor. Ele veio até mim e sorriu.

— Obrigado pela conversa. Mudei-me para a casa da minha tia.

E apenas três meses depois, conseguiu a vaga na Medicina, tão sonhada, desde o primeiro dos cinco anos de cursinho.

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