- Ô, mãe, de onde vêm as crianças?
Ela fechou o aquário dos peixes, recém limpo, e mexeu no cabelo da filha com ternura. Os cachos negros como os do pai, que a pequena não deixava cortar de maneira nenhuma, caíam pelos ombros.
- Bom, primeiro tem uma sementinha e...
- E aí? - interrompeu a pequena. - Porque lá na escola a gente viu que a galinha e a pata botam o ovo, e do ovo nasce o neném pato, ou o pintinho. Neném gente nasce do ovo também?
- Não. A mamãe e o papai entregam uma sementinha pra cegonha, aí ela leva lá pro céu e quando fica pronto ela traz o neném.
- Ela planta a sementinha lá no céu? Então eu nasci de uma planta, e não de um ovo? - A pequena pensou por um momento. - Por que eu não sou verde, que nem planta?
A mãe riu.
- Não! Você não nasceu de uma planta. Você nasceu da sementinha da mamãe e do papai.
- Que não é planta, nem ovo.
- Isso.
- Não entendi direito. Mas tudo bem. - A pequena deu de ombros. - Tá na lista das coisas que você vai me explicar quando eu crescer né?
- Exatamente. Você vai entender quando você crescer. - Tudo que ela queria era mudar de assunto.
- Mas você vai me contar tudo no mesmo dia?
A mãe franziu a testa, sem entender.
- Como assim?
- Todas as coisas que você vai me explicar quando eu for grande. Vai ser tudo no mesmo dia?
Engoliu em seco, sem saber o que responder. Escutou o barulho da chave na porta. A filha saiu correndo para receber o pai que chegava do trabalho. Salva pelo gongo.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Vim do Ovo?
quinta-feira, 5 de junho de 2014
sobre a minha correria
já há vários dias eu tenho alguns "flashes" de ideias para escrever; às vezes no banho, outras no metrô, outras deitada quase caindo no sono. sempre penso "nossa, hoje eu quero escrever sobre isso!". aí, de repente, eu esqueço sobre o que eu queria escrever, e das frases que montei na minha cabeça enquanto a estação não chegava, ou enquanto o shampoo terminava de agir (acho que, nesses casos, a água lava os meus pensamentos e os leva embora). e aí a cabeça é novamente tomada por artigos intermináveis de leis, números de processos e muitas, mas muitas palavras, só que nenhuma delas vem do coração. a correria dessa cidade é mesmo implacável. a gente precisa marcar horário com antecedência pra conseguir fazer coisas simples como comer um doce com uma amiga.
então, hoje eu resolvi escrever sobre a minha vontade de escrever. tenho vontade de escrever desde quando ainda não sabia fazê-lo. aprendi a escrever sozinha. escrever pra mim sempre foi terapia, às vezes fuga, às vezes solução, mas sempre alegria.
na correria, embora eu não consiga formar nada coerente, pelo menos, graças aos flashes eu sei que miss Inspiração não morreu, apenas está cada dia mais sapeca e aprontando das suas. ah, se um dia eu pego essa menininha acordada enquanto estiver em casa, caneta na mão, encarando a folha em branco...