domingo, 18 de dezembro de 2011
Transparente
Era tão estranho que, apesar do frio cortante que já durava dias, o lago ainda não estivesse congelado. As crianças que brincavam ali perto colocavam suas pequenas mãozinhas em suas águas e se espantavam: ele ainda estava quente e cristalino, como no verão. Dias de temperaturas negativas se passaram, e ele continuava aquecido. Porém, um dia, quando o caminhão veio buscar a mudança da família que lhe era vizinha, suas águas começaram a cristalizar. “Impossível”, pensavam, “deve ser algum tipo de magia”. E o lago já possuía mais de um metro de gelo em sua superfície, lisa como um vidro. No dia seguinte, outra família chegou e uma menina vinha todos os dias patinar sobre ele, apesar dos avisos de que era “encantado”. À noite, curiosa, sentou-se na borda do lago e, sentindo a luz da lua cheia iluminar sua face, perguntou-lhe: “por que congelou tão rápido?”. Após alguns segundos, o lago lhe respondeu: “Apenas gosto de companhia. Eu sabia que o menino que morava aqui antes gostava de nadar, então eu me aqueci. Sabendo que você gosta de patinar, eu me rendi ao frio e congelei.”